top of page

1922 - Original Netflix - Stephen King - Crítica

  • Acumulador Literário
  • 25 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

"Do pó viemos e ao pó voltaremos (GN 3:19)"


Stephen King é um caso raro na indústria cinematográfica nos Estados Unidos. Ele é um dos poucos autores que conseguem emplacar tantas adaptações cinematográficas, uma mais diversificada da outra, de maneira tão seguida. Apenas neste ano nós tivemos A Torre Negra, IT- A coisa, Jogo Perigoso e agora 1922, que é baseado um dos contos presentes em "Escuridão total sem estrelas", livro de contos de sua autoria publicado no Brasil pela Editora Suma de Letras em 2015. Com tantas obras sendo adaptadas, é possível que o controle criativo sobre a produção possa se perder um pouco. Definitivamente, não é o caso de 1922.


O longa metragem, original Netflix, nos traz a história de Wilfred James (interpretado por Thomas Jane), um homem simples do interior proprietário de uma pequena quantidade de terras. Como o estereotipado homem do campo comum, ele apenas tem em mente duas coisas: Cuidar da sua terra e ter o que deixar para uma próxima geração da família, neste caso seu único filho Henry.


Sua esposa, vivida muitíssimo bem, mesmo que por pouco tempo em cena, por Molly Parker, não gosta nenhum um pouco da pacata vida que vivem na zona rural e possui o sonho de mudar para a cidade grande e abrir uma butique de roupas feitas por ela, costureira de mão cheia.


O conflito começa quando a esposa de Wilfred recebe por herança uma quantidade significativa de novas terras e desperta o interesse de vender toda a propriedade, pegar o dinheiro e partir para a metrópole. Wilfred, não aceita a ideia e começa aos poucos a induzir o filho a darem juntos um fim na esposa, para impedir que ela se desfaça das terras que um dia será dele.


Atenção, **spoilers** abaixo.


O primeiro ato do longa, é tão bem construído que consegue criar com extrema competência a noção da vida pacata no campo. Tão pacata que você começa até mesmo a torcer pela esposa, com o anseio dela por algo mais movimentado no cotidiano. Contudo, com o passar das cenas, a mãe, que em um primeiro momento se parece como uma mãe modelo, se transforma, amparada por alguns goles de bebida, claro, um dos poucos divertimentos do local, e se mostra uma pessoa extremamente rancorosa. O diálogo dela, tirando sarro do próprio filho ao começar a se relacionar com garotas é algo que chega a dar pena do jovem. Com isso o espectador começa a torcer pela morte da esposa.


A mudança na personificação, no humor da personagem ser tão bem feita e a cena do homicídio da mãe, pelo próprio filho e marido, trazem a tona não um terror fajuto de filmes de horror de quinta, mas trazem uma tensão psicológica que há tempos não se via em uma história de King.


Com a esposa morta e com o filho traumatizado por ter sido cúmplice nos planos maquiavélicos do pai, a vida de Wilfred desencadeia tantos acontecimentos que só o leva ladeira a baixo.


E é aí que fica bom. Você assistindo, fica com tanta repulsa do homem por ter matado a sangue frio a própria esposa, ter jogado os seus restos em um poço abandonado cheio de ratos, ter matado uma vaca em cima do poço à tiros e ainda ter mentido para os vizinhos dizendo que ela teria fugido e abandonado o lar, que quando as coisas começam a dar errado para Wilfred, você nutri um sentimento de satisfação interior pela desgraça alheia digna de uma confissão na missa do próximo domingo. Nunca foi tão bom, torcer para alguém se dar mau pela sua ganancia.


Ao mesmo tempo em que o sentimento de desprezo pelo personagem principal é nutrido, o sentimento de família e a importância de se manter ela a qualquer custo, pelas adversidades que a vida oferece para nós, é tão grande que você termina o longa repensando em muitas situações do seu dia-a-dia. É King de qualidade, muito ao contrário do que nos foi apresentado em A Torre Negra.


Se o final de Wilfred compensa, ou é justo, ou válido, vou deixar essa para você, leitor, responder após assistir ao longa. Mas cabe ressaltar, assim como a esposa de Wilfred, uma hora ou outra, ao decorrer de anos, ou de apenas um ano (1922, como neste caso), todos nós surgimos do pó, e todos nós à ele retornaremos, mesmo que antes sejamos comidos por ratos em um poço escuro no jardim de nossas casas...


Nota 0-5: 4,5


 
 
 

Комментарии


Destaque
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Tags

© 2023 por Amante de Livros. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Google+ B&W
bottom of page